Esgotamento(s) (Ou a hora
Esgotamento(s) (Ou a hora do cepticismo)
Há, nos tempos que correm e ao menos neste mundo ocidental que é o nosso, um esgotamento , não tanto pela exploração infatigável das possibilidades, mas pela usura sobre elementos fundamentais. Exemplos disso podem ser apontados em registos tão diferenciados como o dos recursos naturais, dos bens não renováveis (ou só muito lentamente recuperáveis), aparecendo aqui o perigo de esgotamento por falta de atenção séria aos problemas de falência (a médio prazo) do eco-sistema, ou no âmbito do próprio esgotamento das emoções (tudo é visto e repetido, por vezes ad nauseam -o zapping existencial tende a trazer-nos "mais do mesmo"). Mas é no plano das palavras que esse efeito de exaurimento do sentido se torna mais desolador: as palavras são usadas e recicladas de situação para situação, sem tempo de reflexão e, o que é pior, sem amadurecimento do seu peso específico. Em vez de calar sobre o que não se pode falar, fala-se sempre e de mais. Fala-se do que não se sabe. Escreve-se sem assunto e sobre a falta dele. Usa-se as mesmas palavras para significados completamente distintos (e muitas vezes sem qualquer relação verdadeira com o significante). Revela-se e mascara-se num jogo permanente de meias verdades, essa espécie de mentira branqueada e escorregadia.
AmAtA
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Publicado em 21 de Maio de 2003