Presenças Há poetas que, não sendo aqueles de que nos lembramos a priori quando mencionamos o núcleo dos nossos "fornecedores de palavras mágicas", não deixam de ter significado, porque os conhecemos num qualquer momento longínquo ao qual ficaram para sempre associados, quando algumas linhas tiveram um sentido fulgurante. É, para mim, o caso de Ana Hatterly, que li nos inícios dos anos oitenta e deixei de lado por outras palavras que se instalaram depois (não é o caso de outro silêncio, respeitante ao Eugénio de Andrade, um enorme poeta de quem ainda não "servi" as palavras na blogosfera por amor a outros, mas lá chegará o dia...). O facto de A. H. ter sido distinguida recentemente em duas ocasiões fez-me relembrar um poema (inserido na colectânea Poesia 1958-1978, editada pela Moraes) que há muito não relia, sobre a perversa relação entre as palavras e a vida (o magno problema again and again, Nuno !). Aqui fica um excerto: O regresso I O termo que eu temo Em mim estremece. Não é o que passa Nem aquilo que esquece Que o meu ser receia É antes Essa dor contínua Que de si mesma se torna cadeia. Se alguma dor existe Que o termo não atinja, Não existe porém termo algum Que a própria dor não finja: Sabes? Mentes. Sabes? Não vês. Quando descobres, passaste Quando interpretas Esqueces. II A senda que eu sigo É a meta que atinjo. Partindo, regresso E regresso avançando. Tremendo é que eu venço. Chorando, me alegro E sofrendo, embeleço Entendendo a ordem Oculta e evidente: Ou amo e morro Ou vivo e não amo. AmAtA --------