Trânsitos "Há pessoas que ainda não são aquelas com quem vamos viver o futuro mas que nos levam do passado para o nosso futuro". in entrevista (recomenda-se a leitura) de Maria João Guardão a Joaquim Sapinho, Notícias Magazine, 18/5/2003, citando Richard Ford*. Viver o futuro? Que tempo usar para os afectos do passado? Não há futuros nem opções (linguagem bolsista perversamente usada no contexto de investimentos igualmente incorpóreos...) sem a projecção contínua dessas pessoas do "passado" e desse fornecedor permanente e imediato do mesmo passado - o presente, contingência máxima. Por outras palavras, o nosso futuro é uma construção feita do e no trabalho sobre todas e cada uma dessas "contribuições existenciais". Sobre esta questão da nossa vida como amálgama de contribuições, ver um texto feliz de Jorge Silva Melo, publicado na sua coluna "Fora de mercado", intitulado "Filho e aluno", edição do Público de 10 de Maio 2003, suplemento Mil Folhas. Eis como começa e acaba: "Há anos que, olhando-me ao espelho dos meus hábitos, descreio do livre-arbítrio e barafusto contra a genética:(...). Vil tristeza, esta pobre identidade: nem o nariz é meu, nem o trejeito, nem aquilo que vejo fui eu a ver. Aulas e genes, estes olhos agradecidos." Vale bem a pena ler as linhas do meio! *Richard Ford seria certamente outro dos autores contemporâneos a inserir no post Tertúlia, como se prova pelo livro de short stories "Mulheres e homens", editado pela Teorema, e, muito em particular, pelo extraordinário conto intitulado"Ocidentais" ; também Paul Auster não desmerece como autor do romance actual, pois não? Se há dúvidas, leia-se "O livro das ilusões", editado pela ASA - e por aqui até há uma duplicidade na referência: o livro abre com uma citação de Chateaubriand sobre a vida como sucessão de segmentos; e de tempos, pergunta-se? AmAtA --------