VAnitAs! Nem podem supor como
VAnitAs!
Nem podem supor como começo o sábado com o pé...direito!
Estou muito orgulhosa por ter merecido a referência dos colunistas infames, e fica registada a diferença entre um universo mais vasto e parte dele (mas continuo a achar que, se elestivessem ambições políticas, valia a pena repensar algumas aversões antigas causadas por quem não tem dúvidas e nunca se engana (a chamada frase lapidar do centro direita troglodita - the economy is not enough, stupid!) ; de qualquer forma, acho que política é também o que fazemos por aqui, quando comentamos a coisa pública na blogosesfera, no sentido do exercício da cidadania plena - sendo certo que há mais, muito mais, para nos por a pensar.
Quero também agradecer (um pouco atrasada, mea culpa!) ao Nuno do tradução simultânea , pelo acolhimento gentil. Como atenuante, aqui fica o soneto favorito dele:
W. S.
LXXI
No longer mourn for me when I am dead,
Than you shall hear the surly sullen bell
Give warning to the world that I am fled
From this vile world, with vilest worms to dwell:
Nay, if you read this line, remember not
The hand that writ it; for I love you so,
That I in your sweet thoughts would be forgot,
If thinking on me then should make you woe.
O! if (I say) you look upon this verse,
When I perhaps compounded am with clay,
Do not so much as my poor name rehearse,
But let your love even with my life decay;
Lest the wise world should look into your moan,
And mock you with me after I am gone.
Uma nota sobre a referência à tradução do VGM: a questão parece-me residir na relativa impossibilidade da tarefa - como se traduz W.S.? Só se pode, na melhor das hipóteses, fazer uma espécie de "glosa transposta", uma transfiguração no sentido bíblico do termo, não é? Porque os sonetos de Shakespeare pertecem ao quadro linguístico em que foram enunciados, e todos os outros lhe serão eternamente alheios, como os sonetos de Camões estarão sempre amarrados ao português renanscentista. Mas mais vale permitir a transfiguração possível e, assim, a eventual aproximação de outros olhares que, de outro modo, ficariam irremediavelmente afastados dos originais, do que mantar o culto perfidamente fechado - e sou aqui parte interessada, por causa dos gregos e dos latinos - se não se traduzisse a Íliada,os Diálogos ou a Eneida, ai de mim, ficava à porta de um mundo imenso! Mas de tradução sou só consumidora; não meto mais a foice em seara alheia, prometo (tentar, que a minha assertividade é compulsiva, I'm afraid).
Voltando aos sonetos: o Modus Vivendi abriu com o CXVI como voto sobre os valores da constância; mas há outro que não tardará a visitar-nos, sobre o respeito pela liberdade alheia.
AmAtA
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Publicado em 17 de Maio de 2003