Tertúlia Sem querer propriamente
Tertúlia
Sem querer propriamente entrar na tertúlia ,que tem sido tão aliciante seguir, entre o Abrupto ("responsável"pela atenção que os media tradicionais cá do burgo têm dedicado à blogosfera nos últimos dias, com destaque para o espaço na revista da edição de hoje do Expresso) e a Montanha Mágica, sempre gostaria de fazer notar ao primeiro que não terá demasiados motivos para preocupação sobre o eventual desaparecimento do romance; já sabemos do seu natural pendor catastrofista (versão pessimismo culto), mas, mesmo correndo o risco de ficar conotada com a vertente integrada (significa qualquer coisa tipo "contentinha da silva"), não posso deixar de apontar razões para o prazer da leitura no mundo amplo da ficção contemporânea: como o Abrupto bem sabe, o Philip Roth não está só (e se "Dying Animal" não é um romance, é certamente uma novela muito densa, sem esquecer que "Casei com um comunista" e "Goodbye, Columbus" são dificilmente classificáveis como outra coisa que não bons romances do mesmo autor). Em bom rigor, temos também Ian McEwan ("Atonement" é simplesmente imperdível), Iris Murdoch (pelo menos "Henry e Cato" merecem o tempo da visita), Coetzee ("Youth" e "Disgrace" são ambos pequenos romances primorosos) e Rushdie, Houellebecq (certamente mais com "As partículas elementares" do que com "Plataforma"); até mesmo David Lodge ou Nick Hornby, que descrevem um quotidiano através do olhar sardónico,por vezes com imensa graça. Mas há também espanhóis (melhor seria referir hispânicos, como Manuel Rivas, Cabrera Infante, Muñoz Molina, Carmen Posadas); é claro que não vão ficar todos como ficará Mann ou Proust (a propósito, não esquecer a M. Yourcenar, por favor! a francofobia pode ser perigosa...); e, quem sabe, pode ser que até, com paciência, se encontrem portugueses com alguma produção que ao menos consiga fluir acima do anódino; ou não?
AmAtA
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Publicado em 17 de Maio de 2003