O Tempo Já tenho tratado este tema aqui, de diversas formas. Sei que ele come as coisas, e que dita a verdade. Mas hoje é um dia especial para mim, em termos de tempo: o meu pai faz setenta anos e, à sua maneira delicada e contida, ressente-se disso em silêncio. Sofrea escassez de vida que adivinha, teme não ver os netos iniciarem a vida adulta (ainda falta meia dúzia de anos, pelo menos...), receia dependências futuras. Tudo em silêncio, para não tentar partilhar o que julga só seu (e é tão comum, de humana condição), para não incomodar a mulher que ama acima de tudo, para não se sentir invadido por outros afectos que, por próximos que sejam, serão sempre menores e mais estrangeiros. Embora não leia os blogues (o suporte papel é o único que considera adequado à leitura), é a ele que dedico, como homenagem, estas linhas, retiradas do texto publicado a 7/6/2003 no DNa, e escrito com imensa sensibilidade e bom gosto por Carlos Quevedo: "A nossa vida não é uma corrida contra o tempo; é com o tempo. É por isso que não temos pior inimigo que a nostalgia ou a melancolia. Esses sim são verdadeiros venenos ou o cancro da nossa vida que encravam o delicado mecanismo que nos permite sentir o tempo". AmAtA --------