Teatro Não, não vou fazer
Teatro
Não, não vou fazer mais um post (demasiado) intimista, embora o título faça recear o pior: vou só mencionar uma peça que vi ontem, no Teatro Aberto, e de que gostei bastante. Copenhaga, de Michael Frayn, encenada por João Lourenço e representada por Carmen Dolores, Luís Alberto e Paulo Pires, levanta questões sobre as difíceis fronteiras entre ciência, ética e política, com um texto forte trazido até nós por um trio seguríssimo. Não sou crítica de coisa nenhuma (salvo de mim própria, e em dose inferior à desejável, I'm afraid), pelo que estas apreciações são ditadas pelo mero exercício da opinião que (de)corre do gosto.
Tenho a sorte de ter ido com o meu amigo que mais se tem esforçado por me fazer destemer o mundo das ciências, matemática incluída, esse tenebroso saber que me povoou os pesadelos por largos anos, muito depois de a ter afastado de mim com decisão e incontido prazer (aliás, ontem foi o meu dia dedicado aos matemáticos, que bom), o que facilitou a minha adesão (superficialíssima, entenda-se!) ao lado científico do problema.
Mas o certo é que a visita do físico alemão Werner Heisenberg ao seu antigo mestre dinamarquês Niels Bohr, durante a ocupação nazi, em 1941, permite especular sobre o que realmente terá acontecido entre esses dois homens em Copenhaga, num início de Outono particularmente crepuscular da história europeia.
Uma única nota negativa: a 1ª fila da plateia é de um desconforto total para quem se atreva a medir mais de 1,70 (o que significa que não me queixo por mim, mas tomo a defesa das dores alheias); e há uma galeria de onde um público infeliz vê mal e de cima os actores, o que é contraditório com todo o trabalho cénico. Ele há arquitectos muito estranhos...
Ana Roque
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Publicado em 27 de Junho de 2003