Tempus (sim, é verdade, não
Tempus
(sim, é verdade, não resisti...)
"Deixe que os seus juízos tenham tenham a sua própria, tranquila e imperturbada evolução, pois esta, como qualquer progresso, tem de vir do íntimo e por nada pode ser pressionada ou acelerada. Tudo tem um tempo até ser dado à luz".
R. M. Rilke, Cartas a um jovem poeta, ed. ASA, Trad. Vasco Graça Moura.
Este tema, versado com superior mestria poética no Antigo Testamento (Livro de Qohélet, ou Eclesiastes)* , surge precisamente no texto que outras frases marcantes se enunciam e se tornam o mote para o pensamento judaico-cristão (e greco-latino, em certo sentido, pelo menos após a elaboração da Bíblia dos Setenta) ao longo dos séculos, sem que possamos considerá-las esgotadas.
"Vaidade de vaidades, é tudo vaidade". Esta afirmaçao desencantada do autor, que se proclama filho de David, rei de Jerusalém, decorre da constatação do carácter vão de todas as coisas, com excepção do temor à divindade; as obras dos homens de nada serviriam, tudo se repete -"Não há nada que seja novo debaixo do sol"- e o cepticismo é extensivo à natureza dos homens: "Os perversos dificultosamente se corrigem, e o número dos insensatos é infinito" . Mas no meio desta dureza, surge, como uma medida redentora do desconsolo humano, a proclamação da "certitude" dos tempos, como a adequação inevitável de tudo a cada momento: "Todas as coisas têm o seu tempo, e todas elas passam debaixo do céu, segundo o termo que a cada uma foi prescrito." Esta é, apesar de todas as mudanças, de todas as diferenças de olhar, de todas as efectivas novidades, vinte e dois ou vinte e três séculos depois, uma constante a considerar.
*Tradução portuguesa da vulgata, utilizada por Três Sinais Editores, 2001.
AmAtA
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Publicado em 1 de Junho de 2003