Ainda Vinicius Faz hoje dois meses que, mal pousadas as bagagens ligeiras de uma breve viagem a Itália, comecei esta escrita. Era então a AmAtA, pseudónimo mais do que revelador de um desejo não cumprido. Hoje, sem pseudónimo, festejo com Vinicius de Moraes e agradeço em pensamento a quem me trouxe até aqui. Até ali atrás. Sinto-me só como um seixo de praia Vivendo à busca no cristal das ondas, Não sei se sou o que não sou. Pressinto Que a maré vai morar no fundo d'alma. Calo-me sempre se te escuto vindo Marulho de incerteza e de agonia; Há crenças deslizando nos meus traços, Molhando a estátua do meu sonho antigo. Declino-me nas frases dos rochedos Nas pérolas de som do inesquecer Na incrível sombra da montanha adulta. E ao me curvar ao peso da memória, Descubro meu reflexo obscuro Num soneto de espumas inexactas. Ana Roque --------