Mágicas palavras Há tempos, o meu amigo que sabe de matemática e de poesia, de cidades remotas e de jazz, que pensa como vive (mordaz e aventureiro, um eterno inquieto pela inteligência do olhar e um potencial insatisfeito porque a imaginária perfeição perdida no tempo é sempre impossível de suplantar), ofereceu-me um volume com a obra de Vinicius de Moraes (ed. Nova Aguilar, Rio de Janeiro). Devo-lhe algumas surpresas fascinantes. A que vos deixo não é a maior delas, mas tão somente uma divisa a que todos temos certamente direito, e de que não podemos abdicar sem dor constante: Da Fidelidade Há alguma coisa maior que nós mesmos que é a fidelidade a nós mesmos Flor espantosa que vive das águas cáusticas e das terras apodrecidas da prodigiosa extensão humana. (...) A fidelidade é como o amor da miséria pelo eterno viajante sereno É como um homem que à força de contemplar um rio é por sua vez contemplado por ele. Se é que há um lugar de Deus em cada criatura nada será fidelidade senão a fidelidade à falta de Deus neste lugar Aos sentimentos e nunca à verdade porque a verdade é o símbolo do absoluto e o absoluto é a morte do homem. (...) Vinicius de Moraes Em temos hábeis, entenda quem puder. Ana Roque --------