Como se... Contigo aqui em Mertu é como se já estivesse em Heliópolis. Regressamos ao jardim das muitas árvores, Os meus braços cheios de flores. Olhando o meu reflexo no quieto lago Os meus braços cheios de flores Vejo-te a aproximares-te pé ante pé Para me beijares por trás, Os meus cabelos carregados de perfume. Com os teus braços à minha volta Sinto-me como se pertencesse ao faraó. trad. Helder Moura Pereira * O teu amor penetra o meu corpo como o vinho e a água quando a água e o vinho se misturam trad. Jorge Sousa Braga Anónimo, Egipt, sec. XI a.C., in Rosa do Mundo, ed. Assírio e Alvim. * Work in process Algum correio electrónico ( que realmente me tem deixado surpreendida pela abundância, sobretudo nos últimos dois ou três dias), pondo questões e solicitando "aprofundamentos temáticos" sobre as matérias existenciais que tenho vindo a tratar, deixa-me um pouco preocupada. Não posso nem quero cair na tentação de sugerir que tenho as respostas , as definições e, menos do que tudo, as receitas para a resolução, em definitivo, das dores de crescimento da alma, em particular no que respeita à procura do nosso próprio lugar no mundo, dentro e fora de nós mesmos; compreendo que a partilha de dados de introspecção, a divulgação de sínteses feitas a partir do percurso de relativa travessia do deserto brilhe aos olhos de algumas pessoas como uma aura de esperança para o seu próprio caminho. Mas a verdade é que as respostas, por mais que se consiga falar sobre elas e tente pô-las "ao serviço" da busca dos outros, só servem, em última análise e na sua valia integral,a nós mesmos. Sobretudo, não quero assumir um papel de pregação que seria descabido - a minha "escalada" é a que tem que ser, a que preciso, onde não há nada adquirido; é um continuum, um verdadeiro never ending path. Continuarei, como sempre,aprocurar partilhar aqui as questões nucleares do meu modus vivendi; contudo, deixo um claro aviso à navegação circundante: cada um tem que escrever a sua própria carta de marear. Eu só sei o que vejo no meu mar. Como escrevi a uma amiga, também em resposta a um mail recente: "o modus resume a coisa, mas a questão é esta: o mais importante na vida é, creio, descobrirmos quem somos e tornarmo-nos plenamente esse ser; corrigir os defeitos que conseguimos corrigir, mas por nossa própria vontade e exigência ética profunda, não para nos moldarmos à vontade de quem quer que seja; ao mesmo tempo, reconhecer o que é o amor e perceber que se constrói por decisão, mas com inafastável dignidade. Conciliar tudo isto dentro de mim tem sido a minha ocupação". Ana Roque --------