Outono Ao contrário do que possa parecer, o Outono é um tempo de renovação; mais profunda, mais lenta, mais dolorosa, é uma renovação de mudança de pele, deixada cair depois de tornada inútil pelo escaldar de um sol demasiado quente, abrasador (abrasivo?). A metamorfose que leva da efervescência para a contenção, que promete um reencontro mais autêntico no dealbar da primavera. Saber aproveitar o Outono, a bruma que tempera a luz, a chuva que lava tantas expectativas mortas, ressequidas à flor da pele; o conforto do chá fumegante, os livros empilhados sem espaço nas estantes, a serra distante no fiodo horizonte quase indistinto de nuvens, a cidade escondida atrás do rio tapado pela névoa. Ouvir todas as músicas de anos, reviver o que foi mas ficou, deixar apagar devagar o que não vale a pena ficar. Esperar pelo Inverno sem temer o frio, saber que tudo passa sempre - o sol, a chuva, a noite, o dia, o ódio, o amor. Nós. Em paz. --------