Ecos (em quarto minguante, ou requiem por uma bela jovem assimétrica) "Não sei como é que estes assuntos poderão ser escritos num livro, a não ser que, por outro lado, sejam camuflados através de imagens. Quando ouvi falar de si pela primeira vez, contaram-me que era um homem muito reservado (...). Não me ajoelharia diante de si como um dos seus malandros, jurei, com a boca cheia de confidências inexprimíveis: direi em termos directos o que pode ser dito e deixarei por dizer o que não pode ser. Todavia aqui estou eu a deitar cá para fora os meus mais profundos segredos! Você é como um daqueles libertinos populares de quem as mulheres se protegem, mas contra quem ficam, no fim de contas, impotentes, sendo a sua notoriedade a arma mais astuta do sedutor. (...) Disse a mim própria (terei já confessado isto anteriormente?) que é como a aranha paciente que se senta no coração da sua teia, à espera que a presa venha até ela. E quando nos debatemos nas suas garras, abre as mandíbulas para nos devorar, e quando no último estertor gritamos, ela sorri, num sorriso fino, e diz: 'Não pedi que me visitasses, vieste por tua própria vontade.' " J. M. Coetzee, in A ilha, trad. Marta Morgado, 2ª ed., Dom Quixote. --------