Frase "(...)é preciso espaço para
Frase
"(...)é preciso espaço para fazer tempo, mas sobretudo é preciso tempo para fazer espaço".
Paulo Cunha e Silva, in Resistir, DN, 16 de Novembro de 2003.
Esta frase, inserida num artigo de opinião sobre, entre outros temas, projectos culturais, parece-me belíssima e lapidar. O espaço para fazer tempo é, à partida, uma questão do corpo, uma necessidade logística de instalação no mundo, a natural e incontornável premência que a Física constata na impenetrabilidade. Ter um espaço para fazer tempo é, no entanto, mais do que esse encaixe precário num canto qualquer, um mero acampar de sobrevivência: como Virginia Wolf deixou magistralmente claro, o espaço de que precisamos para vivermos o nosso tempo de passagem (o que nos é dado ou o que aceitamos ter) é o "nosso quarto", o território de liberdade existencial que garante a dignidade, permite a criação ou, no mínimo, a reflexão, e o encontro de si.
Mas não é menos basilar ter tempo para fazer espaço: aí radica a necessidade estrutural de tempos de afastamento, de balanço, de substituição do velho pelo novo; é o tempo de recolhimento do inverno que garante a expansão de novas seivas, o abandonar da velha pele, despida durante a hibernação, que renova e prepara o advento num novo patamar de experiência e de conheciimento de si.
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Publicado em 26 de Novembro de 2003