Pura luz A manhã intensa, em arco laranja até ao azul puríssimo. O corpo como mera presença testemunhal de um calor incomensurável e de foco distante. Palavras belas para proteger do frio, no começo luminoso do inverno: Do natural conselho, Amor, o trilho sei bem que contra ti jamais valesse, se em tanto laço e vã promessa e desse teu fero artelho assim tanto me humilho. Mas novamente, e em mim me maravilho (e o digo como quem nisso empreendesse e em salsas águas já o percebesse entre a costa toscana e Elba e Giglio), eu te fugia às mãos no desatino que ao rumo dão o vento, o céu, a onda, indo desconhecido e peregrino; quando dos teus ministros eis a ronda, donde não sei, e diz que a seu destino mal de quem nega e mal de quem se esconda. Francesco Petrarca (1304-1374), in As Rimas de Petrarca, trad. de Vasco Graça Moura, ed. Bertrand, 2003. --------