Verbo Às vezes levamos dias seguidos com um nome, uma frase, uma música, a ressoar dentro de nós, sem que saibamos como nem porquê; devem ser restos de sonhos muito antigos, alguns nunca sequer sonhados, mas que, pairando à nossa volta, pousaram com discreta intromissão, suave estranheza de cores levemente desbotadas. Se ouvimos dentro de nós a frase "eu sou quem sou", o que é isso se não a voz imensa escrita há séculos, a voz que falou a Moisés da sarça ardente, que pode visitar qualquer um, estando em todos como partícula ínfima da própria condição humana, mesmo silente, mesmo abafada pelo ruído dos dias menores, mesmo calcada pelas infindáveis pequenas coisas que roubam o sonho a quem dorme? Essas palavras, ou outras mais novas, fazendo do anúncio a presença invisível do demiurgo, ou outras diferentes, que noutros livros falem com outras histórias, trabalhando a epifania ao sabor das longitudes, o que são? --------