Voz Suspensa sobre o rio,
Voz
Suspensa sobre o rio, a meio da noite, a mulher pensava que, se escrevesse poemas, se os seus dedos, por milagre, desatassem a desenhar palavras fora dela, seriam apenas ditos por uma única voz; muitos poderiam lê-los, embora, se fossem poucos, nada lhe importasse. Porém, mal algum leitor desprevenido tentasse dar voz àquelas letras, os sons ficariam irremediavelmente presos na garganta, sem licença para povoar o espaço. E só na voz dele os seus poemas viveriam.
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Publicado em 12 de Novembro de 2003