Claridade A vida tinha-lhe trazido, de modo disfarçado em provas de resistência, o bem supremo, raro e precioso, de realizar uma perfeita coincidência entre o corpo e a alma, entre o prazer fora do tempo e o amor incontido; como não prescindia facilmente dos sonhos e buscava a perfeição com a insolência de quem não a sabe exclusiva pertença dos deuses, faltava-lhe muitas vezes a humildade, nem sempre se permitia a prática da generosidade, e não usufruía em plenitude a confiança devida na felicidade que era a sua. Como se compreende, era óbvia e demasiadamente humana, excepto quando brilhava no único espelho em que se reconhecia sem medo, frente ao homem de olhar penetrante. Aí, sim, perdia a imperfeição dos limites e tornava-se, por momentos imensos, puramente total. --------