Brilho Não a conheço, mas
Brilho
Não a conheço, mas há alguns anos que sigo de longe o seu trabalho. Em tempos remotos de pouca liberdade para leituras exteriores à investigação, o acaso trouxe-me "A filosofia e o resto", ed. Colibri, 1996, um conjunto de textos organizado em parceria com Maria Luísa Couto Soares; agora, Maria Filomena Molder surge com "A imperfeição da filosofia", um volume de ensaios magníficos, ed. Relógio d'Água. E na entrevista feita por Helena Vasconcelos, no suplemento Mil Folhas do Público de hoje, aquela mulher a meio da vida, senhora de poderosa erudição, diz:"Não há experiência mais gratificante do que o reconhecimento da grandeza de alguém, mas essa experiência contém uma ameaça, a de se ser aniquilado. Para escaparmos a essa ameaça, é preciso que transformemos o reconhecimento da grandeza alheia em sentimento de veneração. Não se pode começar a pensar verdadeiramente sem essa forma de iniciação, que implica olhar para trás, conservar as cinzas, pagar as suas dívidas, provar a si próprio que não se é mais indigno do que aqueles que desprezamos". A beleza da cultura tornada sabedoria em palavras que brilham.
--------
Publicado em 17 de Janeiro de 2004