Espanto (ou da imprevisibilidade da
Espanto
(ou da imprevisibilidade da comunicação)
Como é que um pequeno comentário a um texto de Morin, baseado em reflexões sobre experiências de vida, como só poderia ser, provoca tantas reacções em tão curto espaço de tempo? Desde os elogios gratificantes e afectuosos vindos de além-mar, a perguntas directas sobre questões reais da vida de quem me escreve (e que desconheço em absoluto...), até interpretações com destinatário certo, aconteceu de tudo um pouco. Sucede que, em bom rigor, só falei do que conheço, do que me tocou (ou escolhi) viver. Como disse a alguém, a este propósito, não sou analista de sentimentos alheios, não me atrevo a tanto, não tenho instrumentos que me habilitem e, sinceramente, também não me interessa muito. E sei que se sai magoado de paixões sinistras e de décadas, vividas com uma gestão de expectativas cinzenta e inútil, desconsoladora e mortificante a horas certas. Perdi mais do que ganhei, então. Mas isso é apenas a (minha) vida. Cada um sabe (quando sabe, o que não é líquido) de si.
--------
Publicado em 28 de Janeiro de 2004