Nota bene (ou da precisão
Nota bene
(ou da precisão paradoxal em conceitos imprecisos)
"O pensador sem paradoxo é, como o amante sem paixão, uma bela mediocridade."
S. Kirkegaard.
Às vezes, na imprecisão dos tempos que correm, o eclectismo é visto como um desvalor, confundido com relativismo, ou seja, em última análise, com a fraqueza valorativa de um politicamente correcto incapaz de fazer escolhas, levando tudo à equivalência - que assim se torna em verdadeira indiferença, a mais letal das desconsiderações.
Ora, em bom rigor, o eclectismo não é, ao menos na origem, um fim, mas um método, uma vontade de apre(e)nder o mundo, uma curiosidade activa e enérgica. É uma atitude de "ver o máximo possível para escolher" (não por acaso, ecléctico vem do grego eklektikós, que significa "apto a escolher, o que escolhe", de acordo com o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado).
Em suma: abertura ao novo, sem ignorar o antigo; não estabelecer equivalências por comodismo, desatenção ou cobardia. Escolher, sempre. Se isto não se chama eclectismo, pode bem ser que tenha outro nome. Mas é estar vivo.
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Publicado em 20 de Março de 2004