Soneto (para uma manhã perfeita)
Soneto
(para uma manhã perfeita)
Tempo é já que minha confiança
Se desça dũa falsa opinião;
Mas Amor não se rege por razão;
Não posso perder logo a esperança.
A vida, sim; que ũa áspera mudança
Não deixa viver tanto um coração.
E eu na morte tenho a salvação?
Sim, mas quem a deseja não a alcança.
Forçado é, logo, que eu espere e viva.
Ah! dura lei de Amor, que não consente
Quietação nũa alma que é cativa!
Se hei-de viver, enfim, forçadamente,
Pera que quero a glória fugitiva
Dũa esperança vã que me atormente?
Luís de Camões
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Publicado em 20 de Março de 2004