Soneto (para uma manhã perfeita) Tempo é já que minha confiança Se desça dũa falsa opinião; Mas Amor não se rege por razão; Não posso perder logo a esperança. A vida, sim; que ũa áspera mudança Não deixa viver tanto um coração. E eu na morte tenho a salvação? Sim, mas quem a deseja não a alcança. Forçado é, logo, que eu espere e viva. Ah! dura lei de Amor, que não consente Quietação nũa alma que é cativa! Se hei-de viver, enfim, forçadamente, Pera que quero a glória fugitiva Dũa esperança vã que me atormente? Luís de Camões --------