Sem limites Ao contrário do
Sem limites
Ao contrário do que possa convir a quem controla os outros por necessidade imperiosa de sobrevivência do seu pequeno mundo, não há limites para a liberdade interior, para a possibilidade permanente, simples e existencial, de aprofundar o conhecimento. O mundo verdadeiro, enorme e cheio de coisas que nunca permitem o aborrecimento, é uma fonte inesgotável de receitas contra a angústia: há sempre mais para aprender, mesmo quando só se consegue ficar sabedor, erudito até, mas não sábio, já que esta condição implica mais do que memória, tempo e estudo; só se acede à sabedoria não renegando princípios, valores, afectos, consideração e respeito (por si próprio, pelo outro, pelo todo de que somos mínima parte).
A vida não deve ser nunca um lento e inexorável percurso de escravidão a uma realidade que não se muda por medo, vivendo a subalternidade por fraqueza moral, engolindo a amargura em doses homeopáticas. Não é a vaidade, a "modernidade inconsequente", a ausência de determinação ou a inconstância que produzem a liberdade de procurar a dignidade; é a coragem de escolher a construção contra a instabilidade do desgosto. É outra coisa.
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Publicado em 8 de Março de 2004