Companhia   Estive dois dias com Richard Ford, e dei o tempo por bem gasto: Pecados sem conta é um conjunto de short stories ainda mais estimulante do que o reunido em Homens e mulheres, que era já bastante interessante. Mesmo sem conhecer a América, para além de muitos anos de livros e filmes (Nova Iorque, ou melhor, Manhattan, não conta - não é a América, é uma realidade diversa, completa em si mesma), é esse espaço imenso que se vê em fundo, cenário mutante (o deserto, o Grand Canyon, as cidades pequenas do interior, as estradas e os motéis, as diferenças entre o norte e o sul); e o que se vê bem, mesmo muito bem, são homens e mulheres, na casa dos quarenta, cinquenta anos, à procura de uma verdade qualquer que acreditam ter-lhes escapado, muitas vezes destruindo as vidas (que tinham gasto duas décadas a construir) por pura ilusão. São, a seu modo, contos exemplares.   --------