Conversa sobre o inelutável (entre
Conversa sobre o inelutável
(entre Gilgamesh e Enkidu)
- Diz-me, meu amigo, a lei do mundo subterrâneo que conheces.
- Não, não ta direi, meu amigo, não ta direi; se te dissesse a lei do mundo subterrâneo que conheço terias de te sentar a chorar.
- Está bem, quero sentar-me a chorar.
- Pois bem, o que amaste, o que acariciaste e que aprazia ao teu coração, como um velho vestido, está agora roído pelos gusanos. O que amaste, o que acariciaste e que aprazia ao teu coração está hoje coberto de pó.
Antonio Escohotado, in Rameiras e esposas, ed. Mareantes.
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Publicado em 17 de Julho de 2004