Para que tu me
Para que tu me oiças
(presente da Maria João)
Para que tu me oiças
As minhas palavras
Adelgaçam-se por vezes
Como o rasto das gaivotas sobre as praias.
Colar, guizo ébrio
Para as tuas mãos suaves como as uvas.
E vejo-as tão longe, as minhas palavras.
Mais que minhas são tuas.
Vão trepando pela minha velha dor como a hera.
(...)
Agora quero que digam o que eu quero dizer-te
Para que tu me ouças como quero que me ouças.
O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
Furacões de sonhos ainda por vezes as derrubam.
Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
(...)
Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras.
(...)
Vou fazendo de todas um colar infinito
Para as tuas brancas mãos, suaves como as uvas.
Pablo Neruda
--------
Publicado em 31 de Julho de 2004