Para que tu me oiças (presente da Maria João) Para que tu me oiças As minhas palavras Adelgaçam-se por vezes Como o rasto das gaivotas sobre as praias. Colar, guizo ébrio Para as tuas mãos suaves como as uvas. E vejo-as tão longe, as minhas palavras. Mais que minhas são tuas. Vão trepando pela minha velha dor como a hera. (...) Agora quero que digam o que eu quero dizer-te Para que tu me ouças como quero que me ouças. O vento da angústia ainda costuma arrastá-las. Furacões de sonhos ainda por vezes as derrubam. Tu escutas outras vozes na minha voz dorida. Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas. (...) Mas vão-se tingindo com o teu amor as minhas palavras. (...) Vou fazendo de todas um colar infinito Para as tuas brancas mãos, suaves como as uvas. Pablo Neruda --------