(ou da maior ilusão de óptica) A cidade de pedra cinza e prata esperava uma vez mais, bela e imponente, no meio da tarde, debruçada sobre o rio que se olha sem possuir, que não se conhece nunca, como se corresse para um mar diferente - longe, o brilho da mica a fingir o retalho de miríades de pequenos espelhos improváveis, tão fragmentários e duros como a vaidade que cega e prende por tempo insuportavelmente longo. A cidade nunca se desvenda, está ali e mostra-se com parcimónia, inundada de luz amável nesta primavera precoce. A noite veio quando não devia e trouxe o calor das palavras amorosas, o espaço habitado sempre, perdido para os poetas e só para eles, na sombra dos dias passados, serenamente insone. A manhã sorriu sem mácula nem pressa, sem dúvida nem mágoa, a luz ainda mais azul, o mar à vista numa praia com o nome antigo de miramar, latejantes as marés a renovar o mundo, prontas para o equinócio, prementes. O corpo mais ausente do que é costume, como um porto enfim conquistado, a alma cada vez mais presente, o futuro na linha do horizonte. O amor (quase) maior do que a vida.