Ao longo de toda uma década, tinha sido ensinada a desconfiar de palavras várias. A primeira era paixão. Foi cuidadosa e persistentemente levada a tomá-la como inimiga, mais feroz ainda do que a palavra seguinte na lista das proscritas, a detestar em tempo - amor. A destruição foi-lhe decretada ao som de bela música clássica e perante palavras faustosas de outros. Obediente, meticulosa e confiante, lançou-se à tarefa: levou uns meses a demolir o p, consoante instável; depois disso, o a não ofereceu resistência e o i eclipsou-se logo de seguida. Já o x, bem equilibrado, levantou-lhe as primeiras dúvidas e o a seguinte só foi afastado com lágrimas de raiva, capazes de arrrastar o pequeno e indefeso ~. Quando acabou a demolição do último o , virou as costas ao luciferino projecto e partiu sem des(a)tino. Poucas luas adiante, as palavras todas brilhavam como estrelas sobre o verde do mar enfim descoberto.