Gosto das mulheres que envelhecem, com a pressa das suas rugas, os cabelos caidos pelos ombros negros do vestido, o olhar que se perde na tristeza dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se nos cantos das salas, olham para fora, para o átrio que não vejo, de onde estou, embora adivinhe aí a presença de outras mulheres, sentadas em bancos de madeira, folheando revistas baratas. As mulheres que envelhecem sentem que as olho, que admiro os seus gestos lentos, que amo o trabalho subterrâneo do tempo nos seus seios. Por isso esperam que o dia corra nesta sala sem luz, evitam sair para a rua, e dizem baixo, por vezes, essa elegia que só os seus lábios podem cantar. Nuno Júdice