A insónia acontecia-lhe, noites cortadas ao meio por uma faixa de resistência ao sono, o abandono tornado impossível por um acaso, ou pela procura de sentidos distantes. Eram ocasiões raras, povoadas logo pelos livros que lhe dormiam ao lado da cama, um espaço que invadia uma corrente longa de noites quase todas começadas cedo e terminadas bem no início da manhã. Depois, a vida mudou-lhe as marés, as noites tornaram-se tempos habitados de palavras faladas, às vezes risos, muito raramente lágrimas. Mas a insónia, a impossibilidade total da trégua trazida pelo sono, passou a ser uma visita frequente e solitária, sem livros dentro - só belas imagens de um mar perdido em madrugadas únicas.