Que o nosso mundo é rápido e aflito já se sabe. Que dessa urgência voraz tenha de resultar uma embriaguez dos sentidos que negue tudo o que tem significado para cada um de nós, já dá para discutir. É que por cada luto que fica por fazer, se adia ou paralisa, por cada encolher de ombros que evita o mergulho na tristeza, cresce em nós uma pasta de assuntos pendentes, que vamos acartando, vida fora, cada vez mais densa e mais pesada. E um dia, seguramente, a casa vai abaixo, ou nós. Isabel Leal, in O trabalho de luto, notícias magazine, ed. 26 Junho 2005.