Eugénio de Andrade é um poeta. É, será sempre, um poeta maior - as suas palavras iluminam, alimentam, espraiam. A luz da sua cidade bate nos olhos de quem o lê, o rumor do rio indomável a correr para um mar tão frio, tão sobranceiro, soa mesmo à indizível distância. A mão já não escreve outras palavras. A perfeição das que desenhou pertence por inteiro a esta língua que nos reveste. * A liberdade não esteve sempre aqui, como agora, que nem se dá por ela, de tão (re)conhecida. A liberdade custou vidas, vidas inteiras, formas de sacrificar o pessoal ao colectivo, de sacrificar o interesse próprio ao que se acreditava ser melhor para a humanidade toda. Foram cometidos erros de perspectiva, é sabido, mas não é isso que agora importa. Álvaro Cunhal, e tantos outros que por ínvias razões tive a sorte de conhecer, foram abnegados até ao limite. Somos devedores de meses, anos, de privações várias, desde o encarceramento à pura e simples negação de uma vida familiar e pessoal tranquila e normal - aquilo que temos por garantido, e que eles poderiam ter tido, não fôra a força das convicções que os animava. Nem sempre é fácil saber isto hoje, saber sem ter olhado nos olhos quem se sacrificou e não se lamentou nunca. Houve "fraquezas dos camaradas"? Naturalmente que sim. Como se prova para além de qualquer dúvida razoável, todos somos só humanos.