Da palavra (poética ou não)
Oh homérica palavra alada
que no balbuciar
do primeiro instante de cada coisa
se evola
Palavra corpo aéreo
que se dissolve no fluir da voz
nuvem
bola de sabão
forma sem conteúdo
a tua bondade reluz
no prodígio da língua
Sem ti perdemos o pé
sem ti perdemos a fé
a promessa da perfeição
a memória de uma fome antiga
que a usura do tempo
não consegue senão multiplicar
Ana Hatherly
Publicado em 5 de Julho de 2005