A despedida faz-se de pérolas. Como se nunca partisses pela estrada ou pelos outeiros da noite - assim te vejo, dias a fio, sem que te reconheça. Só assim, desta forma, consigo com que o corpo responda a um grito dado antecipadamente, muito por dentro, inaudivel. Quando te largavas por aí, por onde eu não via, não pensava sequer que te pudessem pedir as mãos, que te dissessem que hoje os pássaros saem de outro lugar que não este. O nosso sitio é este - aqui, onde as árvores lavam as mãos do passado, onde nos perdemos, tue eu quando se tornam suaves as crostas dos dias a irromper pelas mãos. No nosso colo a brisa leve da tristeza de quem não viaja ou de quem não parte. No cais, ribombam cascos de ferro das cidades, e perduram nas enseadas os vestígios dos corpos os riscos de quem se perdeu. Consigo que não esqueçam, aqui, por onde nós viemos. Vou fazer com que oiçam o som que as pálpebras fazem ao fechar, como se de um pequeno murmurar se tratasse. Uma cantiga. Uma melodia. As músicas ecoam pelas paredes, os quadros estão tingidos de uma cor pérfida de abandono. A casa é o que nunca foi - um simples cárcere de âmagos. E as janelas fecham-se, as portas fecham-se, os soalhos erguem-se e estalam. Chove. Por onde os nossos pés caminham, ficam marcas de giz como desenhos da nossa morte - são inspirações de ar que restaram. Ao perdê-las, fiz com que o mundo desse meia-volta, fiz com que se lavasse e limpasse a humidade do pensamento, sendo os olhos o oríficio por onde podíamos olhar quando tudo era simples, quando os filmes eram menos coloridos. São como grupos de histórias, as nossas mãos. . Tendem a ficar firmes quando lhes tocamos, ou simplesmente estendem-se pelo corpo e pelo sexo, esperando que nos deitemos e adormeçamos como se hoje existisse cansaço - vontade de esquecer. Nunca mais se vêem pardais pelos pêlos estendidos na estrada - os barcos partiram, as nossas mãos adornaram a despedida. O nosso gosto nunca foi este - o do a-deus. A religiosidade nunca foi o nosso forte, como que se nos custasse a engolir o peso que os outros deixam quando os vemos de costaslonge olhando para a frente e nos despedimos deles. Sérgio Xarepe