Um homem de veludo atravessa a estrada. Com ele leva a leveza do ser, sustenta-a, com dificuldade. Pára, sucedendo-lhe a brandura, o costume de parar, seguido do ímpeto de continuar. Sorri ao passeio, ao calcário, ao ornamento. O homem de veludo necessita de se encontrar. Regressa à estrada, deita-se cuidadosamente numa faixa branca, criteriosamente escolhida para descansar. O homem de veludo quer descansar. A travessia é amorfa, demorada, silente. Ao deitar-se cruza os braços, fecha os olhos, e sente o cheiro das madeiras. O homem de veludo é agora tolhido de movimento, caem-lhe lágrimas familiares no rosto, e não pode fazer nada. Nuno Travanca