Veludo
Um homem de veludo
atravessa a estrada.
Com ele leva a leveza do ser,
sustenta-a, com dificuldade.
Pára, sucedendo-lhe a brandura,
o costume de parar,
seguido do ímpeto de continuar.
Sorri ao passeio,
ao calcário, ao ornamento.
O homem de veludo necessita de se encontrar.
Regressa à estrada,
deita-se cuidadosamente numa faixa branca,
criteriosamente escolhida para descansar.
O homem de veludo quer descansar.
A travessia é amorfa, demorada, silente.
Ao deitar-se cruza os braços, fecha os olhos,
e sente o cheiro das madeiras.
O homem de veludo é agora tolhido de movimento,
caem-lhe lágrimas familiares no rosto,
e não pode fazer nada.
Nuno Travanca
Publicado em 25 de Novembro de 2005