Eu amava as árvores, a rua deserta em que descansava o sol da tarde, o frio que arrefecia o meu corpo. À janela da casa olhava lá para fora. Nenhuma paixão pelo que é humano perturbava, durante esse instante de silêncio, a paz do meu espírito. Flores amarelas na erva que crescia entre a estrada e a residência. De uma árvore caíam, lânguidos, os ramos e no seu verde brilhavam espigas vermelhas. Era sábado, talvez. A poesia era-me inacessível. As palavras pesavam no papel e no espírito como erros de cálculo, como um excesso e prova, inesperadamente, do desajuste. A quem dirigir uma súplica ou uma carta em que, não falando de amor, se revelaria o maior amor? A quem? Incapaz de responder e de me atormentar, eu deixava passar os minutos. Depois levantava-me da cadeira em que estivera sentado e ia àquilo a que eu chamava a minha vida, o meu destino. João Camilo