(gentileza de Amélia Pais) 1 algumas horas outras invadiram as sedas, os perfumes ácidos da louça, não serão recordadas. ou quanto mais as recordarmos, mais a ignorância deitará os corpos no tapume de vidros, para que em torno se conciliem as vontades singulares, as particularidades de um impetuoso alarme. ou seja: deixarão as esplanadas baças, os garfos encolhidos, para que um amplo destino os atravesse. considerem, por exemplo, o paquete que ao meio-dia digere as minuciosas palmeiras sobre a alta insensatez dos aquedutos. ou ainda a ilusão dos alicates ao lado da água, e o seu reflexo do outro lado das vidraças: azul, não é? assim estas algumas outras horas: como esquecê-las? 2 e ainda o sossego das interrogações não se deixa facilmente esborratar, ou a qualidade das tintas, assim no meio do lençol, o impediu até agora. algumas são as horas do vasto almofadão translúcido onde as janelas germinaram, e são as solenes sardinheiras ardidas na boca do início. soçobrando a música produzimos os locais inamovíveis, as persianas corridas sobre o papel meticuloso das suas amenas enseadas. não olhes, outras algumas horas que a madeira se parte e os carinhosos garfos se encolhem na gengiva. 3 quem nelas arde mastigando o musgo fluvial, ou as longas cortinas inundadas, dificilmente evitará outras incertas mesas onde dorme. observem como estão cobertas pela (metáfora da) nuvem sobre o fundo de actos responsáveis, gracejos gratuitos, animais de pequeno porte. eles mesmos se esquecerão, no solene rebordo das horas, de quem foram, de quem teriam sido as campânulas inamovíveis, e essas feridas precocemente supuradas. então outros se cobrem com (a metáfora das) sedas mais cruéis, algumas outras horas que adivinham em garfos naufragados, o silêncio, a secura. 4 observem como rapidamente esquecem, mudando de cor a cada rotação das ventoinhas. e ainda a imagem é pouco fiel, dada a distância e o sucessivo afastamento das delicadas membranas. observem como se dividem, no instante anterior à queda. não se encontra explicado o sombrio abcesso de cólera, ou de timidez, quando as nódoas estalam ao frio pouco vulgar nesta estação do mês. ou será isto, e nada mais, o que esquecemos? António Franco Alexandre