Estávamos cheios de força a noite passada por esta hora, as borboletas voavam e os daiquiris gelados descaíam, Lise estava deitada de costas no chão, séria e sublime, ouvindo Schubert, a minha cabeça explodia com uma rima: foi uma bela noite, uma noite para agradar, beijei-a na cozinha - êxtases - e ocultámos o crime sob um manto de ternura. O tempo está a mudar. Estava frio esta manhã enquanto me dirigia para o parque, sem expectativas, centenas de velhos sonetos no meu bolso para lhe ler caso ela viesse. Mas os pinheiros entretanto encheram-se de sol e a minha senhora não veio em jeans azuis e camisola. Sentei-me e escrevi. John Berryman (1914-1972), tradução de Miguel Gonçalves.