Batem contra o solo os cascos dos alazões. Impacientes, querem retesar mais uma vez as cordas do corpo desse alferes, o tal de Tiradentes. Amanheceu. O verdeprimo pio do nambu madureceu sob o ronco aterrador do trovão. Choveu e estiou na estação. Qual? Alguém lavrou e plantou. Nada se colheu? Há tempo e não há tempo em teus átrios, tua rude canção, tua faina nas auroras, tua indizível, absconsa inquietação. Uma casa, um pode de água fresca, um coração. Eu te mando este cartão postal e te aceno com meu lenço de distâncias, branco de adeus e resignação. Eu parto e permaneço. Estás e estiveste. É na marra que me desvencilho de tuas saúvas, de tuas cigarras, de tuas lavras, de teu gado nubente, de tuas águas trancadas, de tuas coivaras de milho. Pátena e cálix, diamante, melro, arrozal. Estão submersos os teus homens, as dadivosas, graciosas e florais mulheres, os prestos meninos e as pudicas meninas. Emersos, para teu uso exclusivo, só os adjetivos. Nas águas abissais desse teu mar inda florescem oiro e cafezais; há séculos um estigma de dor rui e rói o teu futuro. Entanto, tu te ofertas à eternidade, condenada a ficar cifrada em teu próprio ato de inquisição. Milenar, vetusta, defesa à invasão e à morada, ó minha Minas sitiada! São Paulo, Boston, Lisboa, Tóquio, aí vão os teus filhos evadidos. De tuas vidas, de teus óbitos, não existe assento nos tabeliães. Tuas possessões atestam que em ti ninguém morre e nada medra. Na pedra que tu és a vida se anulou com medo. Esse o teu único segredo. Erorci Santana