Iluminas a sombra dos meus dias neste mundo que abrimos devagar entre o corpo e a alma, sempre mais secretos no abismo que os devora. Maior do que este amor nada haverá até ao fim dos tempos: os teus olhos respondem ao destino, à sua eterna graça que paira sobre as nossas vidas agora a transbordarem numa única razão feita de luz. a tua boca inunda a minha língua com o sabor de todos os sentidos que mergulham a noite numa água sem retorno. Para ti absorvo o hálito de um verão em cada beijo cego, surdo e mudo respirando de súbito em uníssono: enigma revelado num só frémito, insónia submersa que , em silêncio, regressa pouco a pouco aos nossos braços afogados na espuma do seu mar. Perto do teu sorriso há uma fonte embriagada e pura- meu amor, dá-me esse coração, essa primeira raiz de todo o fogo, esse relâmpago onde cresce para nós a flor de um grito; segreda-me às escuras mais um sonho antes de adormeceres sobre o meu ombro. Fernando Pinto do Amaral