Em cada gato há outro gato um pouco menos exacto e um pouco menos opaco. Um gato incoincidente com o gato, iridiscente, caminhando à sua frente ou ao seu lado, o espírito alado do que é terrestre no gato. É o segundo gato que permanece acordado quando o gato está afundado no seu sono abstracto, aos seus pés enrolado, espécie de gato do gato. Ou que, mais tardo, deambula pela sala enquanto o gato se lava, às vezes assomando nos olhos do gato como um passado imóvel e enclausurado. O próprio gato não sabe que anda por ali algo que não cabe dentro nem fora de si. Manuel António Pina