As Águas
As águas que isto são os povos e
As nações e as línguas
Veja-se: são águas verdades e profundas
de um mar imenso e indevassável. Vejo-as
depois escurecendo sob a noite
e ouço-lhes o gemido nos rochedos.
Sobre o impassível líquido soturno
dorso do mar que ao longe se retorce
outras águas em vão, de chuva doce
como inútil consolo se despejam.
Dentro da noite inteiramente escura
as, águas se misturam, confabulam
para a revolta em líquida linguagem.
Ai de vós, ai de vós margens e diques,
arrecifes, limites e rochedos,
se as águas de manhã vos atacarem.
Jorge Medauar
Publicado em 3 de Agosto de 2007