Já me bastava saber de mim o trivial da história e da família, as vozes amigas que me lembram meia dúzia de dias mais secretos, já me bastava a infância e a memória, esse cruzar de equívocos e desaires em lugares diversos e fugazes, já me bastava ter crescido em sobressalto teimando que a ventura é um risco no lajedo. Já me bastava o amor da velha gente que procriou a certeza de um futuro e me legou o nome e vasta terra para morrer e ocultar nossos mistérios, já me bastava um sino e uma noite de profundo azul e algum frio, a lembrança dessas mãos na minha pele, já me bastava o coração ardente colhido pelo amor em pleno Outono com sabor a mel e tão nervoso que vindimei os dedos meio tolo, já me bastava o vento e a terra, os difíceis bichos e as mulheres pilhando feno nos lameiros. Tenho alma sedenta de brandura e os meus dias são inteiros. Porquê ainda tu, oh pura fera? Paulo Jorge Fidalgo