(gentileza de Amélia Pais) Sentir intensamente a vida. Haver amado e haver sofrido muito, manter a alma cega esperando, na sombra, uma luz que não chega ou empenhada em dar vida a um sonho já passado. Amar o fugitivo. Enamorar-se de uma sombra, de um sorriso... Sentir a poesia de alguma melancólica e distante harmonia que, duma varanda aberta, voa sob a lua. Desprezar o mesquinho. Fazer com louco empenho do sonhado ? a vida, e da vida ? o sonho... Extenuar-se numa longa carícia louca; e no fim duma tarde magnífica e florida, esfumar-se no céu, e abandonar a vida com um sonoro verso de amores na boca. Francisco Villaespesa, trad. Paulo Rato