Ideal
(gentileza de Amélia Pais)
Sentir intensamente a vida. Haver amado
e haver sofrido muito, manter a alma cega
esperando, na sombra, uma luz que não chega
ou empenhada em dar vida a um sonho já passado.
Amar o fugitivo. Enamorar-se de uma
sombra, de um sorriso... Sentir a poesia
de alguma melancólica e distante harmonia
que, duma varanda aberta, voa sob a lua.
Desprezar o mesquinho. Fazer com louco empenho
do sonhado ? a vida, e da vida ? o sonho...
Extenuar-se numa longa carícia louca;
e no fim duma tarde magnífica e florida,
esfumar-se no céu, e abandonar a vida
com um sonoro verso de amores na boca.
Francisco Villaespesa, trad. Paulo Rato
Publicado em 13 de Outubro de 2007