Irene Pimentel recebe Prémio Pessoa 2007, ou do merecimento
Por circunstâncias que não devem vir ao caso, partilhei muitas manhãs com Irene Pimentel na Torre do Tombo, entre processos da PIDE, idas fugazes à cafetaria, diatribes cuidadosas com a responsável pelo serviço e trocas de olhares desesperados ante a demora do inenarrável (e assaz dispendioso) serviço de fotocópias. Durante o outono e o inverno de 1998 e até ao verão de 2000, a par da redacção final da minha tese de doutoramento, centrada num tema que me parecera interessante mas do qual já estava obviamente farta - as então novíssimas entidades administrativas independentes e as suas funções de regulação - um trabalho lateral mas bem mais apaixonante levou-me a estar próxima desta mulher que, metódica e organizada, seguia então uma linha bem definida para a sua investigação sobre as vidas de outras mulheres que se tinham oposto ao salazarismo. Aquele não era, obviamente, o meu mundo, mas foi certamente um espaço que habitei com empenho, interesse, imensa curiosidade e respeito por quem tinha tido a coragem de enfrentar um poder que sabia despótico. Ali, Irene Pimentel, quenão era uma leiga nem uma amadora, nunca se mostrou menos acessível ou arrogante pelo seu conhecimento - e o seu profissionalismo e rigor de historiadora são agora justamente premiados.
Publicado em 14 de Dezembro de 2007