A tarde é enevoada e indistinta. (Muito enevoada, muito indistinta.) Contudo há nela imagens, (Contudo há nela vultos, Que se agitam e brilham. Sob a luz opaca, Sob a luz difusa.) Uma após outra vêm, e vão -- E não se sabe de onde, Não se imagina para onde Ou para quê: Um velho Chupando espinhas de peixe, Um homem velho, um homem Muito velho Coberto de pó escuro No fundo da minha mente (Onde as palavras naufragam E sobre elas se abate Um sopro de lua gelada). A lembrança agora É apenas confusa Agitação de entranhas. E assim como o vento Passa debaixo da porta, Pelo caixilho da janela, (Entre os vidros, levantando Uma quase invisível poeira) Assim o corpo respira, Aqui e ali suspeita, Imagina ou entrevê: O que pode ser falado Ainda não é o que devia Ser pensado. Paulo Franchetti