Soneto de contrastes
E fora assim: literalmente aos pés caído!
Se não lhe dera dado dela ser o benfeitor,
Do hedonista, de arrasto, em chão batido,
Restara um servo branco em seu penhor.
Se nem lhe dera ser o incubo incumbido,
Quedou-se ao seu prazer, sorvendo o odor,
Sob o corpo quente, acobreado, despido:
Contrastes! Leite,chocolate; frenesi, torpor...
Contraste! A veia azul realça a débil alvura,
A veia azul pulsante e o branco escravo:
Contraste! Subjugado, tatuado à pele escura,
Em seu ofício, obstinado, fincado, um cravo,
Um vibrante dardo trespassando com doçura,
Como cuida a um bom criado com desbravo.
Vicente Bastos
Publicado em 25 de Janeiro de 2008