Abismo
Vens a mim, te aproximas, te anuncias
Com tão leve rumor, que meu repouso
Não perturbas, e é um canto milagroso
Cada palavra que tu pronuncias.
Vens a mim, e não tremes, não vacilas,
E há ao nos olharmos atracção tão forte
Que tudo desdenhamos, vida e morte,
Suspensos só no brilho das pupilas.
Penetras calmamente em meu viver,
E te sinto tão perto do que cismo,
E há nessa possessão tão funda calma
Que interrogo ao mistério em que me abismo
Se somos dois reflexos de um só ser,
A dupla encarnação de uma só alma.
Enrique González Martínez, tradução de Renato Suttana
Publicado em 3 de Fevereiro de 2008