Dá-me um anel; mas que seja Como o anel em que cingida Tem gemido toda a minha vida. Dá-me um anel; mas de ferro, Negro, bem negro, da cor Desta minha acerba dor, Deste meu negro desterro! Dá-me um anel; mas de ferro... Sempre comigo hei-de tê-lo; Há-de ser o negro elo, Que me prenda à sepultura. Quero-o negro...seja o estigma, que decifre o escuro enigma, Duma grande desventura. Dá-me um anel; mas de ferro, Que resista mais que os ossos Dum cadáver aos destroços Do roaz verme do pó. Entre as cinzas alvacentas, como espólio das tormentas Apareça o ferro só. E o teu nome impresso nele, Falará dum grande amor, Nutrido em ânsias de dor, Pelo fel da sociedade... Que teu nome nele escrito, Nesse padrão infinito, Vá comigo à Eternidade. Camilo Castelo Branco