A casa rica tinha no vestíbulo um espelho enorme, imenso, muito antigo, comprado há pelo menos oitenta anos. Um perfeito rapaz, aprendiz de alfaiate - e aos domingos atleta amador - chegou com um embrulho. Entregou-o a alguém da casa que o levou p'ra dentro por causa do recibo. O mandarete ficou sòzinho à espera ali na entrada. E foi até ao espelho e começou a ver-se e a ajeitar a gravata. Uns minutos depois, trouxeram-lhe o recibo, e foi-se embora. Porém o espelho antigo que já vira, nos tantos anos em que fora espelho, milhares e milhares de imagens várias, ficou contente enfim, cheio de orgulho, pois recebera em si, dentro de si, inteira, tal beleza, por instantes. Kavafys, trad. Jorge de Sena